Falta-nos a consciência da dimensão dos perigos desta actividade. Exploração infantil e trabalhadores em condições desumanas são “só” – e seriam o bastante – a ponta do iceberg. Isqueiros sem condições de segurança a explodir nas mãos dos utilizadores; pesticidas que causam graves problemas de saúde quando inalados; medicamentos de origem não fidedigna que provocam danos irreversíveis na saúde ou até a morte; peças automóveis que comprometem o desempenho e provocam acidentes; cosméticos a provocar lesões dermatológicas; produtos alimentares, incluindo suplementação; tabaco; a poderosa, lucrativa e sofisticada contrafacção não vê limites. A pandemia, aliada ao avanço tecnológico, potenciou o comércio online, principalmente nas redes sociais, provocando um crescimento galopante deste fenómeno.
Na edição de 2022 do Painel de Avaliação da Propriedade Intelectual e Juventude, divulgada pelo Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia (EUIPO), pode ler-se uma reflexão actual sobre o comportamento dos jovens face à violação dos direitos de propriedade industrial, tendo esta revelado dados preocupantes, entre os quais o de que em Portugal 34% dos jovens compraram, intencionalmente (no período a que se refere este estudo), produtos contrafeitos.
É sabido que a contrafacção representa um dos maiores desafios à economia mundial, prejudicando negócios legítimos, denegrindo a reputação de marcas conceituadas, sufocando a inovação e dando lugar a perda de emprego. Contribui, igualmente, com os seus lucros, para manter o crime organizado e financiar actividades ilícitas.
Na era digital em que vivemos, os avanços na tecnologia de ponta relacionada com o desenvolvimento de mecanismos que identificam produtos contrafeitos (como o recurso à tecnologia blockchain e à inteligência artificial), não conseguirão cessar por completo este flagelo, mas têm e continuarão a ter um papel fulcral no seu combate.
Também – e com grande destaque – os detentores de direitos de propriedade industrial desempenham um papel determinante nesta luta anti-contrafacção, levando às últimas consequências as medidas legais disponíveis.
Toda esta luta seria inglória sem o incansável trabalho das autoridades competentes; no caso de Portugal, ASAE, GNR, PSP e Alfândegas, que protegem a sociedade dos efeitos nefastos da contrafacção. A todos, o nosso muito obrigado!
Este dia também serve para nos lembrar que, juntos, podemos proteger-nos dos perigos da contrafacção, que prejudica todos, directa ou indirectamente. Não devemos permitir que este crime seja normalizado.
Amália Gonçalves, perita de marca J. Pereira da Cruz
Teresa Amorim, coordenadora do departamento anti- contrafacção Pereira da Cruz e Associados